sábado, 29 de outubro de 2011

Retorno



Ele está sentado no mesmo banco, na mesma varanda. Observa ela vindo, passos pesados e cansados, cabisbaixa. Ele tem vontade de correr, de pegá-la no colo, de aninhá-la em seus braços, mas sabe e diz pra si mesmo que é melhor que ela venha andando sozinha, absorta em seus pensamentos. Ele espera, espera que ela cruze todo aquele gramado.
Ela se sente envergonhada, não consegue levantar a cabeça e encará-lo. Ela tenta andar devagar não só pelos pesados passos, mas porque está pensando como iniciará uma conversa com ele. Ela ensaia em sua mente, escolhe as melhores palavras, mas sabe que não pode esconder nada dele, pois ele a conhece tão bem que ela nem precisaria abrir a boca para  falar, ele conhece seus pensamentos.
Finalmente ela chega na varanda. Ele apenas a contempla mesmo ela estando de cabeça baixa enquanto as lágrimas escorrem na face dela, logo dela, que prometeu a si mesma que não choraria diante dele.
Ele bate com a mão no espaço vazio do banco onde está sentado. Ela entende o gesto e silenciosamente senta-se ao lado dele. O vento sopra e o cabelo cacheado e ruivo dela dança suavemente. Nenhum dos dois fala, nenhum dos dois se olha, observam o verde do gramado numa concentração curiosa.  
Finalmente ele a toca. Toca a mão dela que está apoiada no banco onde estão sentados. Ela não consegue segurar o choro que antes saía em pequenas lágrimas e encosta-se nele. Ele a abraça como se tivesse ali junto ao seu ser o mais bem precioso que alguém pode ter.
Ela tenta balbuciar algumas palavras, ele a detém. Ela queria muito dizer a ele o quanto sentia falta de como eram as coisas antes dela ter partido, de ter se iludido, deixando-se levar...
Ele apenas sussurrou: - Não há problema nenhum em retornar, estava aqui desde que você partiu a esperar, pois sabia que você encontraria a verdade e um dia retornaria ao lar. Amo-te muito mais do que imaginas.
Ela tomou coragem, o olhou e disse: - Perdoe-me, prometo nunca mais errar... 
Ele colocou a mão delicadamente em sua boca e disse: - Não prometas isso minha criança, és humana, e ainda tens muito a falhar.
Ficaram ali, abraçados em silêncio, até a noite chegar...

2 comentários: