sexta-feira, 20 de abril de 2012

Simples

"Sempre gostei mais da embalagem do que do presente, do bilhete do que da lembrança, da dedicatória do que do livro... Gosto daquilo que não se vê. Ou sim (eu vejo). Da atmosfera, do entorno, das palavras não ditas. Reajo epidermicamente às entrelinhas..."

Solange Maia



quinta-feira, 19 de abril de 2012

A ponte

Ponte. Sim, parece que agora estou em uma ponte, daquelas grandes que liga uma ilha a outra. Parece que estou no meio dela. Se olho pra trás não vejo seu início e se olho pra frente não vejo o seu fim. Muitas coisas já aconteceram e me impulsionaram, me levaram até ao meio, mas ainda falta o resto para se caminhar e chegar no lugar desejado. Às vezes a vontade que dá é de dar meia-volta e voltar de onde saí. Mas não adianta, parece que tem um engarrafamento gigantesco que me impede de voltar. Então olho pro lado e vejo que não estou sozinha, há outros na mesma situação. Estamos todos ali, no meio da ponte que nos separa para o futuro, cheios de questionamentos, cheios de sonhos, cheios de vontades. O tempo de cada um não é igual, cada qual vive o seu tempo na ponte, não posso comparar. Então me lembro que não só passei por tempos difíceis, que até chegar ao meio também tive tempos de muita alegria. Mas me pergunto, ela se perdeu? Não, estava aqui o tempo todo, eu que a escanteie e a sufoquei diante dos meus problemas e medos. É, esse tal de medo é uma praga! Nos impede de viver intensamente e tranquilamente a vida. Agora é respirar fundo e erguer a cabeça, trazer a memória o que me dá esperança. É seguir caminhando e lutando, acreditando e confiando que o melhor está por vir quando eu chegar ao final da ponte...


terça-feira, 10 de abril de 2012

Oficina

Ela estranhou o silêncio da casa, ainda não se acostumara àquilo. Resolveu procurá-lo para saber o que fazia, porque estava tudo tão tranquilo, naquela calmaria. Caminhou em direção ao final do corredor. Até aquele momento nunca tinha tido coragem o suficiente para ir até ao final dele, sempre teve medo daquele escuro. 
Respirou fundo e tomou coragem, lembrou-se que já não era mais uma garotinha medrosa, caminhou pausadamente e com os ouvidos apurados. Foi-se em direção à escuridão.
Enquanto ia se aproximando do fundo do corredor percebeu que uma imagem se projetava. Pensou em correr daquela figura, mas estranhamente não tinha medo dela, pelo contrário, achava até que a conhecia de algum lugar. 
Surpresa ficou quando se deparou com o próprio reflexo no espelho que estava à sua frente. - Um espelho numa escuridão dessas? Pensou consigo mesma em voz alta. O tocou e a medida que o tocava ele ia projetando-se para trás, na verdade não era apenas um espelho, mas também uma porta!
Desceu as escadas que ali tinha e O encontrou amassando barro numa mesa. Estava tão quieto, tão concentrado no que fazia que ela nem quis interromper com as perguntas que tinha. Sabia que Ele conhecia tão bem o que pensava e procurava, mesmo sem pronunciar sequer uma palavra.
Ela então começou a caminhar pela oficina, por entre as ferramentas, por entre os vasos, em meio ao pó quando de repente parou extasiada em frente a uma estante. Estava lá, o dela, não tinha seu nome, mas sabia que era o seu, que era ela. 
Algo dentro dela aflorou e já não era possível controlar as lágrimas que silenciosamente escorriam de seus olhos. Mas ele, que sabe todas as coisas, falou sem ao menos tirar os olhos daquilo que fazia: - Não se preocupe, o seu está quase pronto, falta apenas alguns detalhes para o resultado final. 
- Vai doer o acabamento? Perguntou ela olhando fixamente para o vaso.
Ao que ele respondeu: - Só mais um pouquinho, mas nada comparado ao amassar do barro que já sofreu, agora são só ajustes, vais suportar...